No meio esportivo, em que os atletas de alto rendimento se colocam na linha limite da sua integridade física, a saúde mental, por muitas vezes, é colocada de lado. Nesta quinta-feira, 18, a pauta voltou aos holofotes após a postagem do atleta do Bahia, Diego Rosa, no qual falava que iria largar o futebol após ser vaiado por torcedores na derrota do Esquadrão diante do Jequié na estreia do Campeonato Baiano.
Em entrevista ao Portal A TARDE em 2022, após a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, profissionais do futebol e da psicologia debateram a importância da presença de um especialista que cuide da preparação mental e motivacional dos atletas.
Segundo o doutor Jorge Pagura, presidente da Comissão de Médicos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com a bagagem emocional que os atletas chegam aos gramados, torna-se necessário um acompanhamento psicológico.
“A Comissão Médica vê com bons olhos a presença de psicólogos como parte dos Departamento Médicos de clubes e seleções. Trata-se de um suporte acessório importante numa avaliação multidisciplinar que hoje a prática de esporte de alta performance utiliza. A grande maioria dos atletas vem de uma parte da população que passou por muitos problemas antes de atingir uma posição de destaque. Vem com uma carga emocional grande e a psicologia pode ajudar nesses casos”, aponta Pagura.
O caso de Diego não é isolado no meio, tendo em vista que, por causa da pressão profissional, muitos atletas acabam desenvolvendo ansiedade e até mesmo depressão. Em um esporte, como o futebol, que errar não é aceitável por muitos, o peso da derrota é mais do que o aguentável.
Um dos casos mais recentes, foi do camisa 9 da Seleção Brasileira, Richarlison, que afirmou, durante as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, estar passando por um momento difícil. O caso foi exposto quando, após ser substituído e seguir na seca de gols, o atacante chorou no banco de reservas. Depois do ocorrido, o pombo iniciou sessões de psicoterapia, desejando deixar a fase ruim no passado. Desde então, nos últimos seis jogos, o camisa 9 marcou seis gols pelo Tottenham, da Inglaterra.
Desta forma, com a saúde mental afetando o desempenho dentro de campo, o atleta, sem a ajuda necessária, poderá desenvolver sérias questões psicológicas. De acordo com o psicólogo do esporte Gustavo Korte, a saúde mental é tão importante quanto as preocupações físicas.
“Em qualquer ambiente, qualquer atividade esportiva ou esporte de competição, a preparação psicológica é essencial, principalmente no alto rendimento. Se você não tiver um acompanhamento, não só individual, no caso do futebol você precisa fazer um acompanhamento com a equipe. É durante os treinos que você trabalha todas as habilidades que precisa para colocar em prática durante o jogo principal”, comentou o psicólogo.
Atualmente, os grandes clubes do futebol brasileiro já possuem profissionais da psicologia em seus departamentos profissionais. No entanto, este assunto ainda enfrenta uma série de obstáculos, principalmente com os treinadores. Muitas vezes, a saúde mental é colocada em segundo plano por falta de planejamento nos departamentos esportivos das equipes ou por preconceito.
“Para treinamento no Brasil, primeiro é o reconhecimento do profissional de psicologia como parte da equipe, da comissão técnica. É reconhecimento que ele faz parte da equipe do clube, que os jogadores possam contar com ele em todas as situações. O psicólogo do alto rendimento, ele vai estar avaliando todos os fatores que possam estar influenciando na performance de um atleta. Então, se um atleta está sofrendo influências no caso de um ambiente que não está sendo saudável, o psicólogo consegue identificar isso e vai trabalhar esse ambiente para que ele possa render mais”, afirma Korte.
Após a exposição do caso de Diego Rosa, o Bahia se pronunciou através de uma nota, garantindo que o mesmo já está recebendo suporte do Departamento de Saúde e Performance do clube.
Nesta quinta, em meio a polêmica, o volante se apresentou normalmente ao Centro de treinamento para seguir com a programação de atividades. Entretanto, a presença do jogador na segunda rodada do Baianão, no domingo, 21, contra o Atlético de Alagoinhas, ainda não está confirmada. Na nota, o clube afirmou que a decisão será conjunta entre o Departamento de Futebol, atleta e o Departamento de Saúde e Performance.